Ainda seguindo as três metáforas das redes: fluidos,
teias e rizomas, sugeridas por Maria
Ceci Misoczky, a ideia neste post é
abordar as redes teias que caracterizam algumas das redes do modo de
desenvolvimento contemporâneo, sobretudo as relativas aos centros de poder.
Dentre diversas questões que caracterizam o
território, se diz que ele se organiza de acordo com certos critérios de
partilha e de contiguidade, distância (e/ou de condutas sociais de estar junto
ou separado; próximo ou distante; só ou em grupo).
De acordo com Milton Santos, em Território, Globalização e
Fragmentação (1994), o funcionamento do território
ocorre de modo horizontal por (relação de vizinhança ou continuidade
territorial e vertical ‑ mediante pontos
distantes uns dos outros, ligados por múltiplas formas e processos sociais.
“ O território, hoje, pode ser formado de lugares contíguos e de
lugares em rede: as redes constituem uma realidade nova que, de alguma maneira,
justifica a expressão verticalidade. Mas além das redes, antes das redes,
apesar das redes, depois das redes, com as redes, há o espaço de todos, todo o
espaço, porque as redes constituem apenas uma parte do espaço e o espaço de
alguns. São, todavia, os mesmos lugares que formam redes e que formam o espaço
de todos” Santos apud ProexUFPE.
Seguindo este raciocínio de redes “hierarquizadas”
face territorialidades
Retoma-se o espaço de representação em sua
articulação entre o espaço da prática social e a sua materialidade imediata,
com implicação temporal-espacial das representações sociais nos remete às
relações de poder. O poder é correlato à noção de apropriação e à definição de
papéis sociais hierarquizados. Assim uma das formas concretas de apropriação
temporal-espacial mediada pelo poder é o território. Este fato assimila
territorialidade e poder. No campo das representações sociais o desígnio
adjacente de controle e legitimação na definição de territórios, é a noção de
territorialidade.
O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre
si mesma. O seu conjunto dos projetos e das representações desemboca,
pragmaticamente, em toda uma série de investimentos, nos tempos e nos espaços
sociais, culturais, técnicos, cognitivos. Enfim, a
territorialidade aparece nas representações sociais que visam definir as
fronteiras de controle e apropriação de determinada realidade social.
Raffestin, no quadro da Geografia Política e se
referenciando em Lefebvre, afirma que o território é um espaço modificado pelo
trabalho e revela relações de poder . (Saquet. 75). Ele é objeto de relações
sociais, de poder e dominação, o que implica a cristalização de uma
territorialidade, ou de territorialidades no espaço, a partir de várias
atividades cotidianas. Isso se assenta, segundo Raffestin, na construção de
malhas, nós e redes, delimitando campos de ação e de poder nas práticas
espaciais e constituem o território como materialidade . (Saquet. p76)
Raffestin denomina de sistema territorial o
resultado das relações de pode entre Estado, empresas e outras organizações e indivíduos.
Atores fazem uma repartição espacial, implantam os nós e constroem redes. Os
sistemas territoriais asseguram a coesão espacial e o controle de pessoas e
coisas. “As tessiduras, os nós e as redes são subconjuntos que sustentam as
práticas espaciais, tanto econômica como política e culturalmente”,
concretizando a produção territorial. Essas práticas se inscrevem no campo de
poder de maneira relacional Raffestin se baseia em Foucault (Saquet. p, 76).
Raffestin diferencia atores sintagmáticos e atores
paradigmáticos na produção do espaço. O ator sintagmático combina todas as
espécies de elementos para produzir/ o Estado é o ator sintagmático por excelência.
O ator paradigmático deriva de uma divisão classificatória/ critérios
individuais e coletivos (apud Galvão; França e Braga.)
De acordo com Raffestin (apud Galvão; França e
Braga) Estado e organizações para realizarem objetivos recorrem a
estratégias.
Para designar a definição de estratégia recorre-se
a Reffestin e a de Certeau. É o “uso do engajamento para fins de guerra”
Raffestin (apud Galvão;
França e Braga.). Mas, segundo Certeau aquelas práticas, que distinguem
um lugar “próprio”, de onde se pode manipular as relações de força, são designadas
estratégias. Estas são “um tipo
específico de saber”, possuindo no poder a sua face “preliminar”. Certeau
contrapõe as estratégias às táticas,
que são recursos empregados quando não se domina um lugar “próprio”,
quando se tem que jogar num terreno cuja a regra é exterior, e se ocupa o lugar
do “outro”. Recorrem-se às táticas quando não se tem condições de possibilidade
de um projeto global, e consequentemente, não se obtém individualidade
institucionalizada no campo. Deve se operar por “astúcia” em relação ao tempo –
aproveitar as “ocasiões”.
No dicionário Metapólis se abre outras vias de
abordagem. A estratégia é uma
lógica e a tática é um critério, o estratagema é um ardil. A estratégia se refere, pois, a uma lógica
global capaz de dirigir as operações; a tática é um conjunto de regras e
relações – o dispositivo operativo – necessário para facilitar a “evolução
local”. O estratagema é contingente. (verbete Metapólis. p. 211)
Raffestin (apud Galvão;
França e Braga, p. 38) diz ainda que as estratégias (militares e jogos) têm em
comum: a energia (potencial que possibilita o movimento, a transformação da
matéria) e informação (forma ou ordem detectada em toda matéria e energia).
O problema da
circulação de informação – a amplitude da dominação do território depende da
quantidade de energia disponível. “A circulação da informação estabelece uma
comunicação que ocorre num campo de poder e todo poder é desempenhado no campo
da comunicação” (Raffestin apud Galvão; França e Braga, p. 38).
A noção de poder
multidimensional relaciona Raffestin e Foucault (conceito de biopoder).
Poder gera
transmutação, Galvão; França e Braga, p. 40.
A separação entre
energia da informação no nível do trabalho realiza fissura social (Raffestin apud
Galvão; França e Braga, p. 40) – tratar disso
noutra ocasião.
Segundo Raffestin (apud
Galvão; França e Braga, p. 40-41), o território é um trunfo particular, recurso,
entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é um espaço
político por excelência, o campo de ação do poder. Ver p. 40-41 – CAMPO. Raffestin
- espaço é matéria prima anterior ao território. A partir do espaço das ações
de apropriações, conduzidas por atores ocorre a territorialização do espaço e o
espaço é tornado produto. O espaço é modificado pelo trabalho então revelam-se
relações de poder.
Produzir uma
representação de espaço já é uma apropriação, uma empresa, um controle,
portanto (Raffestin apud Galvão; França e Braga, p. 42).
A divisão da
superfície: malhas, nós e redes, é um sistema de tessiduras - nós e redes – organizadas hierarquicamente
permitem assegurar o controle sobre aquilo que pode ser distribuído.
Para fazer uma
representação moderna do espaço Raffestin (apud Galvão; França e Braga, p. 42
ver 43.-44) destaca a superfície ou plano, linha ou reta e o ponto como
elementos essenciais – puro jogo estrutural que transcende os objetos
representados mas preserva seus contatos, suas relações.
A territorialidade
não é só modelo do espaço, mas também as características dos indivíduos e dos
grupos que constituem um território (Galvão; França e Braga, p. 43).
Os cortes e recortes
das tessiduras e as ligações entre os nós são explorados através dos conceitos
de redes. Ver Galvão; França e Braga p. 44.
Os nós podem ser os
centros de poder e de referências das aglomerações de diversas escalas, de indivíduos
e de grupos. Os nós são interdependentes, precisam relacionar-se, comunicar-se.
A rede é
compreendida na complementaridade entre circulação e comunicação: como fluxos
materiais e imateriais (Galvão; França e Braga p. 44).
“A rede é
proteiforme, móvel, inacabada, desta falta de acabamento tira sua força no
espaço e no tempo (...). A rede faz e desfaz as prisões do espaço tornado
território: tanto libera quanto aprisiona. É o porquê de ela ser o instrumento
por excelência do poder” (Raffestin apud Galvão; França e Braga p. 44).
A rede descrita por Raffestin
é a rede teia.
REFERÊNCIAS
GALVÃO; FRANÇA E
BRAGA. O território e a territorialidade: Contribuições de Claude Raffestin. In
SAQUET & SOUZA, Edson. Leituras do Concieto de Teritório. Expressão Popular,
2009
SAQUET. Abordagens e
concepções do território. Expressão Popular, 2010
SANTOS, Milton. Territorio,
Globalização e Fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1994.
PROEXUFPE. O conceito de TERRITÓRIO segundo
Milton Santos
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