sábado, 1 de setembro de 2012

Globalização, um conceito comunicacional


Segundo Frederic Jameson (2001), a globalização é um conceito comunicacional, que alternadamente mascara e transmite significados culturais e econômicos. Mas, a abordagem comunicacional é “basicamente incompleta”, Jameson adverte que é sempre possível encontrar outras dimensões embutidas no conceito comunicacional de globalização: o conceito de uma nova cultura mundial, através do postulado da ampliação das redes, e o econômico, que advém da viabilização da produção flexível pelas novas tecnologias da informação e da comunicação.
Os problemas de 'padronização' de mercados e a exploração das diferenças dos locais permitem concluir com Jameson que o conceito de globalização é ambíguo e seus conteúdos 'alternantes' possuem múltiplas possibilidades de exploração. É o que se pretende empreender no desenvolvimento deste 'curso', que não consegue se desvencilhar do enredamento e dos torvelinhos das “novas formas de rotação” da informação e da reflexão.
A compreensão das tendências da globalização solicita o enfrentamento dos “números e outros dados duros, macrossociais” que descorporificam os lugares no mapa, ao mesmo tempo, leva a investigação das descrições sócio-culturais, que captam processos específicos do lugar e as possibilidades de ação em tais processos (CANCLINI, 2003).
O novo espaço público global imaterial e virtual conduz a reavaliação da cidade e da arquitetura, como produto da manufatura, com seu decorrente impacto sólido, visual, tátil de realidade, do qual provém o sentido da objetividade do mundo, como parte da “condição humana” de acordo Hannah Arendt (1995). As tecnologias da informação e da comunicação, mas também as tecnologias articuladas a elas, como a logística, permitem a abertura a processos complexos de intervenção territorial. Estes não se restringem mais apenas ao espaço físico tangível, fixo, e sintetizam diversas situações de reconhecimento e de abordagem.
As condições globais estão progressivamente híbridas e multifacetadas, superpõem flutuações e mutações, acumulando camadas[1] de 'realidade' (objetos físicos) e camadas de informações (GAUSA et al, 2000). Estas possibilidades se chocam com a condição de objeto da manufatura, compreendido como localização e posição sensível, e com a noção de espaço como aquilo “que impede que tudo esteja no mesmo lugar” (VIRILIO, 1993). Destaca-se que as tecnologias da informação e da comunicação, as TICs, operam transformações no território sem necessariamente manifestar índices (tangíveis) ou se tornarem ícones (físicos)[2].


[1] Camada é tomada como um termo correlato a estrato, estratificação: “Cada estrato ou articulação é composto de meios codificados, substâncias formadas. Formas e substâncias, códigos e meios não são realmente distintos. São componentes abstratos de qualquer articulação” (DELEUZE & GUATTARI, 2002).
[2] Refere-se à relação entre signos e territorialização de Deleuze e Guattari (1995): índices (signos territoriais), símbolos (signos desterritorializados) e ícones (signos reterritorializados).

Referências
Garcia Canclini, Néstor. A Globalização Imaginada/Nestor Garcia Canclini - São Paulo: Iluminuras, 2007
DELEUZE, Gilles & GUATARRI, Felix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Vol 3. Rio de janeiro: Ed. 34, 1995

DELEUZE, Gilles & GUATARRI, Felix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Vol 5. Rio de janeiro: Ed. 34, 2002
GAUSA, Manuel, GUALLART, Vicente & MÜLLER, Willy et al. (orgs.). Diccionario Metápolis de arquitectura avanzada. Ciudad y tecnologia en la sociedad de la información. Barcelona: Actar, 2000.
JAMESON, Fredric. Notas sobre a globalização como questão filosófica. In PRADO, José Luiz Aidar & SOVIK, Liv. (orgs). Lugar Global e Lugar nenhum: Ensaios sobre democracia e globalização. São Paulo: Hacker Ed., 2001.
VIRILIO, Paul. Espaço Crítico. São Paulo: Ed. 34, 1991 

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