domingo, 2 de setembro de 2012

Fábrica do homem endividado


Alguns anos de "globalização", o processo econômico que predomina mostra o fundo do poço que é a "fábrica do homem endividado", livro de Maurizio Lazzarato, a seguir um excerto do livro traduzido.
O crédito é "um dos melhores instrumentos de exploração que o homem soube erigir pois alguns podem, com base em papéis, se apropriar do trabalho e da riqueza dos outros" (Ardent,apud Lazzarato). O que a mídia chama "especulação" se constitui uma máquina de captura ou a depredação de mais-valia nas atuais condições de acumulação capitalista, em que é impossível distinguir a renda do lucro. O processo de mudança das funções de gestão da produção e da propriedade capitalista, que havia começado a desenvolver no tempo de Marx está hoje totalmente concluídas. A "capitalista realmente ativo" é convertido, já dizia Marx, em "um simples  dirigente e administrador do capital", e o "proprietário de capital" em capitalista financeiro ou rentista. 
Reduzir o financiamento as suas funções especulativas significa negligenciar seu papel político como representante da "capital social" (Marx) que os industriais capitalistas não chegam, e não pode assumir, e a função de "coletivo capitalista" (Lenine) que é exercida, através das técnicas de governo e a sociedade como um todo. Ela também significa negligenciar sua função "produtiva", sua capacidade de gerar lucros.
O neoliberalismo como é chamado o modo redutor de capitalismo financeiro, este expressa o aumento da potência do relacionamento credor-devedor. O neoliberalismo gerou a integração do sistema monetário, bancário e financeiro mediante técnicas as quais refletem o compromisso de fazer com que a relação credor-devedor se constitua numa questão política importante, sem qualquer ambiguidade, uma relação de força baseada na 'propriedade'. Na crise, a relação entre proprietários ( de capital) e não-proprietários (de capital) amplia sua influência sobre todas as outras relações sociais.
 
 
Referência
LAZZARATO, Maurizio. La fabrique de l’homme endetté. Essai sur la condition néolibérale, Paris: Éditions Amsterdam, 2011

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