Ao se ter como ponto de partida a noção de problema
(incluindo a possibilidade deste vir no plural), cabe discerni-lo, definir seus
termos.
De acordo com Chistian Laville e Jean Dione, propor
e definir um problema concerne os passos: concientizar-se do problema; torná-lo
significativo, delimitá-lo; e, formulá-lo em forma de pergunta.
Ainda sobre o "problema", recorre-se à
Bergson (apud Deleuze) que argumenta: Na constituição do método de distingue-se a posição e a criação de
problemas. “(...) reconciliar a verdade e criação no nível dos problemas”. Segundo
este critério é um equívoco considerar que o verdadeiro e o falso concernem
somente às soluções.
O argumento
que a verdadeira liberdade está na constituição dos próprios problemas.
“A verdade é que se trata, em filosofia e mesmo
alhures [é o nosso caso], de encontrar o problema e, por conseguinte, de
colocá-lo, mais ainda do que resolvê-lo. Com efeito o problema especulativo é
bem resolvido desde que bem colocado. (...). Mas colocar o problema não é
simplesmente descobrir (desvelar), é inventar. (...) o esforço de invenção
consiste mais freqüentemente em suscitar o problema, em criar os termos nos
quais ele se colocará”. (Bergsonismo - Gilles Deleuze - Editora 34).
O problema:
A partir de Manuel Castells se concorda que uma
revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação está
remodelando a base material da sociedade em ritmo acelerado. E, a
internacionalização da produção capitalista resulta em padrões de localização
que alteram profundamente as características do espaço industrial e seu impacto
no desenvolvimento urbano.
Manuel Castels diz que é um processo em que os
fluxos, em vez das empresas, tornam-se as unidades de trabalho e decisão. E que
os fluxos tendem a substituir as localidades, numa lógica espacial sem-lugar,
oq ue se pode colocar argumentos divergentes (difrerentes). No entanto Castells
está correto quando diz que "a nova lógica espacial é definida por um
processo complexo de desenvolvimento territorial, baseado nos fluxos de
informação entre as diversas unidades das corporações".Além disso, se
constata com Castells que "O macro-espaço criado por estes fluxos é a dimensão
espacial fundamental destes complexos em grande escala."
Alguns dos termos do problema da relação entre
espaço urbanizado (de uma urbanização extendida, generalizada) podem ser
destacados ou discutidas, nesse caso confrontadas, com Castells:
Pode-se confrontar se é o que de fato ocorre que os "fluxos tendem a
substituir as localidades, numa lógica espacial sem lugar".
E também se pode discutir com Castells, se "o que resta como lógica da nova
localização é sua descontinuidade geográfica." Nesse caso, "esta
dinâmica configura estruturas espaciais multinucleares nas áreas
metropolitanas.E ainda, a geometria variável "nega função produtiva para
qualquer lugar fora de sua posição na rede, cujo desenho muda
continuamente." De modo que, o que resta como lógica da nova localização é
sua descontinuidade geográfica.Intersecções e exclusões que mudam o próprio
conceito de localização para fluxos.
A partir desses termos que tipo de territorialidade
urbana emerge? que tipo de relação entre cidades, metrópoles, regiões,
macrorregiões? Como designá-la?
Levanta-s, inicalmente dois tipos de territorialidades
contrapostas por autores como Pierre Veltz e François Ascher, são elas:
O modelo arquipélago (Veltz e Ramonet) e o
hiperterritório. Ambas designam uma composição de linhas (dos fluxos da
globalização) e de pontos circuitos (cidades).
Arquipélago: há a ênfase da conexão, mas também, de
nó (ponto crítico, que separa) das cidades mundiais, que se tornam “ilhas” de
riquezas, que excluem uma grande quantidade de cidades em um oceano de pobreza.
Hiperterritório (IACC*): semelhante à metápoles
(Ascher), que se baseia no princípio comunicacional relacional regente do mundo
contemporâneo, que produz um novo tipo de territorialidade que consuma um alto
grau de complexidade e diversidade infraestrutural, uma natureza múltipla de
acontecimentos e espaços inter-relacionados. A metápoles converte-se em um
“hiperlugar”, estruturado em rede mundial. Nesta visão, uma cidade já não pode
ser definida como uma ilha.
Há outras territorialidades a serem relatadas em
diversas escalas. Pois, as redes estendem-se por zonas cada vez mais remotas, alheias
à estrutura urbana ou metropolitana que domina a cena contemporânea. A
lobalização, que produz forças simultaneamente deslocalizadas, dispersas e
concentradas, produz mecanismos de regulação e de coordenação dessa
diversidade. Veltz também concebe o par de conceitos "pólos das comutações/
campo de operação rotineira". O conceito de pólos das comutações é aplicável as
urbanidades muito dinâmicas, às cidades mundiais e o conceito de campo de operação
rotineira é aplicável aos espaços produtivos da "periferia". Veltz observa os campos das operaçoes rotineiras em acordo com
a tendência de descentralização das atividades meramente operacionais para fora
das metrópoles, que forma estes territórios das operações.
A globalização para Pierre Veltz (2000) é uma
estratégia para dominar a diversidade resultante das organizações
multilocalizadas e de seus procedimentos de diversificação e valorização de
produtos, deve-se incluir os serviços.
REFERÊNCIAS:
ASCHER, François. Metapolis, Acerca do Futuro da
Cidade. Oeiras: Celta, 1998.
CASTELLS, Manuel.A Sociedade em redes. São Paulo:
Paz e Terra, 2000.
DELEUZE, Gilles. Bergsonismo, Rio de Janeiro: Editora 34
LAVILLE, Chistian; DIONE, Jean. A Construção do Saber: Manual de Metodologia da
Pesquisa em Ciências Humanas. Ed. Artmed
RAMONET, Ignacio. Geopolítica do Caos. Rio de
Janeiro: Editora Vozes, 1998
VELTZ, Pierre. Mondialisation, Villes et
Territoires, L’Économie D’Archipel. Paris: PUF, 2000
* IACC- Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha,
Barcelona, coord. Manuel Gausa, Vicente Guallart, Willy Müller